quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Canção do Tamoio !

I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vidaÉ luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,Que os fracos abate,Que os fortes, os bravosSó pode exaltar.

II
Um dia vivemos!
O homem que é forteNão teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesaTem certa uma presa,Quer seja tapuia,Condor ou tapir.

III
O forte, o cobardeSeus feitos invejaDe o ver na pelejaGarboso e feroz;
E os tímidos velhosNos graves concelhos,Curvadas as frontes,Escutam-lhe a voz!

IV
Domina, se vive;
Se morre, descansaDos seus na lembrança,Na voz do porvir.
Não cures da vida!Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,Que a morte há de vir!
VE pois que és meu filho,Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,Valente serás.Sê duro guerreiro,Robusto, fragueiro,Brasão dos tamoiosNa guerra e na paz.

VI
Teu grito de guerraRetumbe aos ouvidosD'imigos transidosPor vil comoção;
E tremam d'ouvi-loPior que o sibiloDas setas ligeiras,Pior que o trovão.

VII
E a mão nessas tabas,Querendo caladosOs filhos criadosNa lei do terror;
Teu nome lhes diga,Que a gente inimigaTalvez não escuteSem pranto, sem dor!

VIII
Porém se a fortuna,Traindo teus passos,Te arroja nos laçosDo inimigo falaz!
Na última horaTeus feitos memora,Tranqüilo nos gestos,Impávido, audaz.

IX
E cai como o troncoDo raio tocado,Partido, rojadoPor larga extensão;
Assim morre o forte!No passo da morteTriunfa, conquistaMais alto brasão.

X
As armas ensaia,Penetra na vida:
Pesada ou querida,Viver é lutar.Se o duro combateOs fracos abate,Aos fortes, aos bravos,Só pode exaltar.

Gonçalves Dias

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